LAWRENCE C. CHADWICK: O PRIMEIRO ADVENTISTA A VISITAR O BRASIL
- historiadoresadven
- 2 de nov.
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Diego Campos Rocha¹
Figura 1: Túmulo de Lawrence Chadwick.
Tradicionalmente se entende que o primeiro adventista do sétimo dia a chegar ao Brasil foi o colportor Augustus Stauffer (em 1893) e que o primeiro pastor adventista foi Frank Henry Westphal (em 1895). Todavia, veremos a seguir que não é o caso. Pode-se ainda argumentar que Stauffer e Westphal foram os primeiros a trabalhar em terras brazileiras (grafia da época). Isso também vai depender de como definimos “trabalho”. De forma alguma pretende-se diminuir o impacto da influência de Stauffer e Westphal. Esses e outros devem ser entendidos como nossos ancestrais na fé. Contudo, é também de suma importância lembrarmos daqueles personagens menos famosos, especialmente em 2025, quando comemoramos 130 anos de alguns marcos da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Iasd) no Brasil.
Lawrence C. Chadwick
Chadwick nasceu em 20/7/1858, no condado de Chautauqua, estado de Nova York. Filho de Benjamin Franklin Chadwick e Maria Rowe, foi pastor ordenado da Iasd (ordenado em 19/9/1891, em Battle Creek) e presidente da Sociedade Internacional de Tratados.
Chadwick no Brasil em 1892
Figura 2: From Southern Climes.

Abaixo, temos a tradução da carta enviada à Associação Geral a partir do Rio de Janeiro, publicada na Review and Herald, com o título Desde climas do sul, ele escreveu:
Eu parti de Barbados no dia 14 de junho, e após uma viagem muito agradável, cheguei ao Rio de Janeiro na manhã do dia 30 de junho. Passamos por Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco e Bahia no caminho. Tive minha primeira ideia real da magnitude do rio Amazonas quando navegamos por uma de suas desembocaduras, que era tão larga que podíamos apenas distinguir objetos grandes em uma das margens do rio com a ajuda de potentes óculos, enquanto a outra margem era totalmente invisível devido à sua distância de nós. Eu fiz visitas rápidas em todos esses portos, enquanto o navio estava descarregando, e coletei informações muito valiosas.
Tínhamos cerca de quarenta passageiros a bordo, a maioria americanos e espanhóis. Estávamos no mar apenas um domingo, quando falei no salão social a convite do capitão e, no fim do dia, falei com os marinheiros no convés principal.
Já passei três dias no Rio de Janeiro, e devo partir hoje (3 de julho) para Buenos Aires. Quando meu trabalho terminar na República Argentina, espero voltar aqui para uma curta estada a caminho da África. Diz-se que este é o maior porto do mundo, e certamente é muito bom. Medindo todas as suas enseadas e baías, são 128 milhas ao seu redor. Sua entrada é estreita e bem protegida. A febre amarela é quase totalmente reduzida aqui, embora ainda esteja ativa em Santos. Encontramos um navio a vapor com destino ao norte em Pernambuco, que havia perdido seu capitão, comissário e engenheiro-chefe, por causa dessa doença, e vários outros de sua tripulação estavam à beira da morte.
Estou me acostumando a ver o sol no Norte, e o cruzeiro do sul é um objeto bastante familiar. O clima é bastante frio e os sobretudos são muito procurados.
Recebi a triste informação da morte de minha mãe, que havia sido enterrada um mês antes de eu saber que ela estava doente. Tais são as incertezas da vida, e a pessoa as sente mais intensamente quando está tão longe de casa que a grama pode estar crescendo sobre os túmulos de seus entes queridos antes que ele saiba de sua morte. Espero me juntar aos nossos colportores em Buenos Aires em cerca de uma semana e apresentarei um relatório a partir de lá. (Chadwick, Review and Herald em 16 de agosto de 1892).
Chadwick espiou a terra, Stauffer e outros a conquistaram
Na vigésima-nona sessão da Associação Geral em março de 1891, William C. White (filho de Tiago e Ellen), apresentou um relatório sobre a América do Sul aos delegados. Ele discorreu brevemente sobre cultura, línguas, história e religião dos países do “continente negligenciado” [assim chamado pelo pastor Westphal] e os chamou de “nossos primos sul-americanos”. Tais informações de aspectos gerais de um país eram consideradas importantes para abertura e avanço da missão da igreja. As viagens de reconhecimento, portanto, foram também estratégias missionárias adotadas pela Comissão de Missões Estrangeiras.
Não sabemos exatamente que tipo de informação Chadwick coletou quando diz “eu fiz visitas rápidas em todos esses portos e coletei informações muito valiosas”, mas certamente não podemos dizer que ele não trabalhou. Talvez possamos dizer, de forma alegórica, com base nos documentos que temos no momento, que Chadwick entrou na terra para “espiar” e fazer reconhecimento, assim como os 12 espias o fizeram na terra prometida. Stauffer, Snyder, Thurston, Westphal, Graf e outros vieram depois para “conquistar” a terra.
Chadwick não passou apenas pelo Brasil. Sua viagem de desbravamento iniciou-se no México, passou pela América Central, América do Sul e oeste da África. Ficou quase dois anos fora de casa.
Fim controverso
Lawrence Chadwick foi disciplinado pela igreja por conduta desonesta. Deixou a Igreja Adventista em 1893, tornando-se batista, onde também serviu como pastor, vindo a falecer no dia 17/7/1912 em sua casa, em Idaho. Quanto a sua morte, existem duas versões. A primeira, afirma que ele morreu quando estava limpando um rifle, que acidentalmente disparou atingindo seu estômago (ver Figura 3). A segunda, afirma que ele, desanimado devido a uma doença, atirou e se matou às 7 horas da manhã, no quintal de sua casa, enquanto sua esposa estava dentro dela, mas a uma curta distância.
Figura 3: Atestado de óbito de Lawrence Chadwick.
Análise do atestado de óbito de Lawrence Chadwick:
MARGIN RESERVED FOR BINDING WRITE PLAINLY, WITH UNFADING INK -- THIS IS A PERMANENT RECORD. PHYSI - CIANS should state CAUSE OF DEATH in plain terms, so that it may be properly classified. Exact statement of OCCUPATION is very important. See instructions on back of certificate. B. -- Every item of information should be carefully supplied. AGE should be stated EXACTLY. 2 Form V. S. No. 5. 10. 6 - 20 - 11. 1. PLACE OF DEATH. County of Idaho City of Grangwill If death occurs away from usu - Primary Registration District No. 1001 (No. for under special mora. 2. FULL NAME Lawrence Creighton Chadwick Registration District No. 10 St CERTIFICATE OF DEATH 3. SEX Male PERSONAL AND STATISTICAL PARTICULARS 4. COLOR OR RACE 5. SINGLE, MARRIED, WID - White OWED OR DIVORCED. 6. DATE OF BIRTH 7. 8. 9. AGE 15. Filed July (Month) 20 (Day) 1858 (Year) IF LESS than 1 day how many his or min. 53 yrs. 11mos. ds. OCCUPATION (a) Trade, profession or particular kind of work U. Knographer (b) General nature of industry business or establishment in which employed (or employer) Commissoner tauga Co. N. York 10. NAME OF of FATHER Benjamin F. Chadwick 1 BIRTHPLACE OF FATHER (State or Countr) Don't know 12. MAIDEN NAME OF MOTHER Maria Rowe 13 BIRTHPLACE OF MOTHER (State or Country) Dont Know 14. THE ABOVE IS TRUE TO THE BEST OF MY KNOWLEDGE (Informant) Leafy R. Chadwick (Address) Grangevie July 20, 1812, G. S. Stockton Local Registrar VS - YORK CO., PRINTERD SINDERS, BONE 16672 X State of Idaho BOARD OF HEALTH Bureau of Vital Statistics File No. I Registered No. 5 If death occurred in a hospital, institution or camp give its NAME instead of street and number. MEDICAL CERTIFICATE OF DEATH 16. DATE OF DEATH July (Month) 7 17 1917 (Day) (Year) % 17. I HEREBY CERTIFY That I attended deceased from June 1912 to July 17 1912 % that I last saw him alive on June 12, 1912, and that death occurred on the date stated above, at 7.15 P. M. The CAUSE OF DEATH was as follows: accidental gunshot word seized withconvulsin while cleaning, on the same was discharged (Duration) yrs. mos. ds. Contributory (Secondary), (Duration) yrs. mos. ds. % (Signed) in M. D. % May 20, 1912 (Address) Grangeville I State the DISEASE CAUSING DEATH, or in deaths from VIOLENT CAUSES, state (1) MEANS OF INJURY; and 2) whether ACCIDENTAL, SUICIDAL OF HOMICIDAL. 18 LENGTH OF RESIDENCE (For Hospitals, Institutions, Transients or Recent Residents.) At place In the of death. yrs. mos. ds. State yrs. mos. ds. Where was disease contracted, If not at place of death? Former or usual residence. % 19 PLACES OF BURIAL OR REMOVAL praine New DATE OF BURIAL 20. UNDERTAKER. July 21 1912 ADDRESS W Graham Grangeville
Considerações finais
Por sua passagem no país, podemos considerar Chadwick como alguém que também pertence à galeria dos pioneiros do Brasil, América do Sul, América Central e África, e deve fazer parte da historiografia adventista dos locais por onde passou e trabalhou.
Observação: Uma versão desse artigo foi publicada no site Outra Leitura, com o título original de “O primeiro adventista do sétimo dia a visitar o Brasil: Quem foi o pastor Lawrence Creighton Chadwick?” em 05 de outubro de 2025.
NOTAS:
Graduação em Ciências Biológicas (Unasp). E-mail: dibryde@gmail.com







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